sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?


As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.


É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.


Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.


Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.


O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.


Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

9 comentários:

francisco disse...

"Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma."

E é mesmo isto, é que é mesmo, mesmo mesmo...

Susy disse...

Não se esquece!

Vai suavizando, até que deixa de doer...

Apenas isso!

p.s.: Assim que li as primeiras linhas, soube que tinha sido o Miguel Esteves Cardoso a escrever! Forma de colocar palavras, inconfundivel!

Beijinhos!

Carmo disse...

Quando se tem alguém no coração não de põem acçoes de despejo, está no coração... está para além da compreensão...

Faça-se reiki. O reiki leva-nos ao conhecimento interior, à compreensão, à aceitação, por conseguinte à libertação, ao desapejo!

Algures disse...

Francisco,

Há verdades inquestionáveis e esta é uma. Há sempre estágios pelos quais temos de passar antes de chegarmos algures...

Um abraço!


Susy,

Pois, talvez seja isso, mas... Podemos esquecer-nos, se houverem motivos que nos vão "apagando" o rasto do sentimento...
O Miguel Esteves Cardoso faz textos inconfundíveis e muito bons, como que se estivesse a ler o que pensamos.

Beijinhos!!!

Algures disse...

Carmo,

E o reiki permite-nos isso tudo? Confesso que embora desconheça tais "terapias", acredito nas suas vantagens, no entanto também tenho o meu quê de céptico, no sentido de achar que tem as suas limitações...

:-)

Susy disse...

Sou apenas uma conhecedora superficial de terapias alternativas, no entanto sei que o essencial vai além da nossa visão!

O reiki, tal como outras, trabalham energias, apenas isso! E como a energia não se vê, temos de acreditar! Se pensarmos bem, até a igreija é uma terapia alternativa, vive da fé! (este tema daria uma longa e interessante conversa!)

Cada uma com os seus principios e fundamentos! No reiki por exemplo, tens de começar por pensar: só por hoje, vou ser feliz! (adaptei à época que vivemos!) Certamente que a Carmo, terá muito mais a dizer do que isto! ;)

Beijinhos!

Uma boa entrada em 2012!

Algures disse...

Susy,

Como em tudo na vida, há que ganhar conhecimentos para aprofundar as potencialidades no âmbito de determinada matéria.
Acreditar no que se faz, é sem dúvida meio caminho andado para o sucesso do que nos propomos, seja a nível laboral, seja a nível de amizade, seja a um nível sentimental ou espiritual. Acredita que às vezes gostava de ser um crente a nível religioso, no sentido que gostava de acreditar mais do que aquilo que acredito. Essas pessoas, estou certo que sofrem menos.
O que referes faz lembrar um livro de "auto-ajuda", mas sim, a Carmo deverá saber mais a este nível!

Beijinhos e uma excelente entrada em 2012!

Carmo disse...

Quando tiveres um bocadinho de tempo, que não seja Direito, lê sobre a Fisica Quântica e a Cura Quantica. Talvez te pareça um filme aos quadradinhos, mas não é.

Bom Ano Novo!

Algures disse...

Carmo,

Para te ser muito sincero, tenho medo de só conseguir olhar para os os quadradinhos... quiça algo me desperta para esses campos!

Fantástico 2012!